Entrevista: Hernando Neto

agosto 23, 2022


Biólogo e professor, Hernando Neto publicou seu primeiro livro, ANIMA, em 2019. Nascido e criado em Pernambuco, já integrou movimentos de militância LGBTQIA +, ama gatos vira-latas e escuta Tori Amos há mais de 15 anos, época em que propriamente começou a escrever alguns versos. 

Agora, publica seu segundo livro Lateja: a palavra da carne, uma obra que se constrói  a partir de suas vivências LGBTQIAP+ para explorar sinestesicamente narrativas sobre sobre sexo, paixão e transformação.

Em seu primeiro livro, ANIMA, Hernando  refletiu sobre suas experiências com o feminino enquanto força destrutiva e renovadora. Já em Lateja, o autor busca diferentes masculinidades (e, por que não, feminilidades?) para pintá-las num todo diverso, elusivo, transitório.


Para falar sobre o lançamento de sua nova obra e refletir (muito!) sobre poesia, convidamos Hernando para uma pequena entrevista. Confira:

1) O que escrever significa para você? Quando você se descobriu escritor?

Vejo que as pessoas têm vontade de se expressar, falarem o que sentem, o que desejam do mundo, coisas relevantes para nossa individualidade. Escrever foi a maneira mais simples, por assim dizer, que achei para me sentir bem comigo mesmo, até quando não tinha uma ambição concreta de publicar por aí algum texto meu.

A verdade é que a primeira apreciação sempre é aquela em que você conclui algo, um rascunho que seja, relê e pensa: tem algo de especial nisso. E depois de um tempo, vi que queria mostrar minhas poesias a mais pessoas, ter opiniões e ver reações, isso me fez buscar meios de pôr tudo para frente.

Sobre se descobrir, eu me entendo como escritor há 16 anos. Foi quando comecei a encontrar razão nos versos que escrevia, naquela época quase sem parar.”

2) Conte-nos um pouco sobre a sua obra  Lateja. Quais foram suas inspirações?

Lateja começou a se formar na minha cabeça após a leitura de Ulysses, de James Joyce.

 Eu já tinha um livro pronto na época, que viria a ser publicado em 2019 (ANIMA); Ulysses me fez querer escrever algo mais debochado, com humor, e acabei elegendo o sexo como tema de partida para me divertir com a escrita, numa lógica em que a primeira poesia sugeriria a segunda, e assim por diante. 

O primeiro rascunho de Lateja foi escrito em três meses, mas para concluí-lo foram necessários mais dois anos.

3) De que forma os poemas se relacionam com sua vida e sua rotina?

Os poemas que escrevo costumam vir de minhas aspirações e experiências.

No momento criativo tudo se mistura e vira uma realidade particular, que não busca refletir a minha própria, mas me dá ferramentas para sentir que ordenei meus pensamentos, ao menos.

Acho que o efeito da escrita sobre minha rotina surge depois, quando percebo um alívio ou alegria em conseguir criar algo das circunstâncias.

4) Se pudesse resumir a experiência de escrever Lateja, o que diria?

Primeiro divertida e desafiadora, depois depuradora.

5) Sobre a cena da poesia no Brasil, você acha que hoje os autores têm espaço? Como você vê o mercado para os poetas brasileiros?

Sinto-me um autor fora do circuito, ainda que conheça e eventualmente interaja com outros poetas em atividade, como Philippe Wollney e Anna Apolinário. Percebo que o mercado literário, especialmente para poesia, não é um campo aberto, pelo contrário. 

Ou você tem condições de financiar a publicação e divulgação de seu trabalho, ou você apela para editais e prêmios literários e torce pelo melhor. A demanda por poesia também é menor, se comparado com a de conteúdos em prosa, então isso também agrava as dificuldades. 

No fim das contas, você se esforça em se projetar porque acredita no que tem a mostrar, vindo o apoio mais de sua rede de amigos e/ou colegas de profissão, e menos do mercado de consumo.

6) O que significa a poesia para você?

No meu livro ANIMA escrevo "a maquiagem são letras / nela ascendo a mil formas". 

Poesia tem sido isso para mim, o melhor escapismo e encontro que já pude ter.



7) O que os leitores podem esperar de Lateja. De que forma esta obra é diferente de ANIMA, seu livro anterior?

Tanto LATEJA a palavra da carne como ANIMA representam jornadas por autonomia. No livro de 2019, busquei cura por meio da feminilidade em minha vida; em Lateja, no entanto, a ideia central não é de se curar, mas sim compreender a própria existência em corpo e se aventurar por aí. 

O novo livro parte de temas próximos, como sexo e religião, para buscar prazer e justiça, às vezes ao mesmo tempo. Sinto em Lateja uma urgência em ser feliz e não ter medo. É um livro sobre não ter medo.

8) Por fim, após o lançamento de Lateja, quais os seus planos para o futuro? Pensa em publicar outros livros?

Planejo fazer com que Lateja alcance mais gente, uma vez lançado. É uma obra em que acredito bastante e mesmo estando comigo já há um bom tempo, está novinha em folha para o mundo. Isso me deixa super animado!

E sim, quero publicar mais livros. Enquanto a poesia me der a sensação de que há algo de especial em praticá-la, lutarei a boa luta com um sorriso no rosto.


Curtiu a entrevista? Você pode acompanhar o trabalho de Hernando Neto no Instagram e no Twitter. O seu novo lançamento Lateja está disponível em nosso site.



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