Entrevista: Ana Priscila Correia Luz

julho 23, 2020

Poeta em Pânico é um livro de poesia sobre verdades intimistas,  reconhecíveis, humanas e femininas. Em pequenos textos curtos e fragmentos, as palavras de Ana Priscila criam vida própria e criam um jogo estimulante de imagens inusitadas que despertam nossa sensibilidade.

A cada verso, novos sentidos são explorados, criando trilhas na alma do leitor que vão de encontro com a sua autodescoberta. “Poeta em pânico” faz cada um de nós revisitar um universo encoberto. É mais do que um livro, é uma viagem.

A poeta Ana Priscila é leitora inveterada desde a mais tenra infância, tem influências que vão de Kaváfis a Cecília Meireles. Às portas de se tornar balzaquiana, teve a coragem de se definir poeta. Antes tarde do que nunca. Convidamos ela para uma pequena entrevista sobre sua escrita e o seu primeiro livro com a Letramento. Confira:

1.  O que a motivou a escrever Poeta em Pânico?


Através da vivência com as sessões de psicanálise, surgiu uma vontade irrefreável de versificação. Foi algo que tomou forma sem que eu planejasse, e não foi algo agradável.  Pelo contrário, a experiência do divã é dolorida, de quebra. As palavras iam saindo de mim muito mais como um vômito do que qualquer coisa: uma reação de corpo ao confronto de mim mesma.

 

2. Poeta em Pânico é um livro de poesia sobre verdades intimistas,  reconhecíveis, humanas e femininas. Existem partes de você ali? Como é abrir uma parte de si para as pessoas?


 "Poeta em Pânico" é o todo daquela minha parte que já foi. Todo livro é como uma fotografia, pois captura um momento no tempo e o eterniza. Há pedaços da minha vida que estão no livro, mas ninguém se banha no mesmo rio duas vezes. Por isso é tão vital escrever, é como ter acesso preciso às pinturas rupestres de quem fomos.


Abrir essa porta da minha alma para ser lida foi difícil. Eu tinha uma certa trava em mostrar os meus escritos. Foi preciso uma coragem desmedida para me assumir poeta perante a mim mesma (também perante aos outros). Eu achava mais seguro viver hermeticamente fechada. Não podia estar mais enganada; pode-se argumentar fortemente que a poesia só faz sentido quando partilhada.


3.  O título da sua obra é Poeta em Pânico. Por que decidiu por esse nome? O que ele representa?


Em psicanálise, diz-se que a palavra mata a coisa. Os termos crise de pânico, ansiedade, ataque, transtorno... todo esse vocabulário andou me rondando por um bom tempo. Achei que nomeando o livro de "Poeta em Pânico" estaria espantando de vez o fantasma dsse estigma de adoecimento.

É preciso enfrentar a coisa de frente, senão o objeto te domina. É dizer mais... talvez, sem enfrentamento, haja a reificação do ser humano, de maneira geral.


 O "Poeta em Pânico" representa, para mim, aceitação e superação. Escrever esse livro foi como me perceber prisioneira de mim mesma. Através da análise pessoal e também da minha pós-graduação em psicanálise, fui me desvendando e vendo de outros modos.


4. Em seu livro, é visto que a análise foi capaz de reavivar a poesia dentro de você. Como foi o processo?


O processo de escrita foi particularmente complexo. Em diversos momentos a tempestade de versos se fez  tão perene que passou a me atormentar. Eu acordava e dormia pensando em poemas, estrofes e por aí vai. Não raro saia correndo do chuveiro para escrever palavra-chave ou coisa do gênero.


Há também a questão da ressuscitação da minha veia literária. Havia parado de escrever há quase dez anos, antes de "Poeta em Pânico". Retomar a atividade de poeta com tanta sofreguidão foi uma experiência deveras somática. O inconsciente parecia finalmente avisar ao corpo: ei, estou aqui e não vou para de me manifestar!


5.  Nos conte um pouco sobre você. Quem é Ana Priscila? Como você se definiria?


 É difícil me definir quando sinto que estou me erigindo pouco a pouco. A apresentação social é a de que sou advogada, psicanalista em formação, poeta, cinéfila, etc. A apresentação de profundis passaria muito mais pelo fato de me considerar uma pessoa que precisa de muito pouco para viver. As questões transcendentais me interessam muito mais do que as materiais. Posso dizer que me dou ao luxo de cultivar minha vida espiritual.


6. Quem são suas inspirações literárias? Quais obras foram essenciais para você?


Estou numa fase de ler muito Adélia Prado, Francisca Júlia e Chesterton. Em termos gerais, sempre fui muito nerd e não posso deixar de citar Tolkien e Asimov como essenciais. Influência maior da infância foi Machado de Assis. Na adolescência, era vidrada em Murilo Mendes. Sobre obras que me influenciaram, preciso citar "A Divina Comédia". É monumental ter tido a oportunidade de estudá-la a fundo e na língua original.


7. Quando você descobriu que queria ser escritora?


Tenho meu primeiro poema guardado, tinha seis anos quando o fiz. No fundo, sempre quis escrever. Mas para dar conta de sustentar essa vontade, do fazer diário, da labuta, foi preciso tempo. Escrevo como escritora há dois anos.


8. Por fim, você tem mais projetos para o futuro? Gostaria de escrever mais poesia ou pensa em projetos diferentes?


Tenho um livro também de poemas que sairá pela Penalux, possivelmente em janeiro. Já está editado o "Fragmentos", nos trinques. Estou trabalhando no terceiro livro neste momento. Também faço parte da organização de duas antologias com a editora Cogito.


Estou engajada nos meus projetos como revisora literária e tradutora. Coloco-me ao dispor, por sinal. Tenho um blog poetanodiva.wordpress.com. Quanto à literatura, estou cada dia mais interessada em ensaios e crônicas.


Poeta em Pânico está disponível no site da Editora Letramento! 





 

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