Conheça O Rei da Montanha

julho 28, 2020



Por Cristiano Jesus



A história da Filosofia Ocidental pode ser resumida em três grandes fases; na primeira, a razão é a fonte segura do conhecimento válido, e a racionalidade é sua única expressão admissível; na seguinte, as emoções passaram a ser consideradas; e por fim, os impulsos intuitivos tiveram a sua vez. Assim, outros veículos de expressão também ganharam importância, como por exemplo as diversas formas de arte. 


Apesar de obras de literatura com impacto filosófico sempre terem existido, autores de ficção que conduzem suas histórias por problemas filosóficos como Milan Kundera, Hermann Hesse, Albert Camus, dentre outros, são fenômenos recentes. Eles fazem parte de uma linhagem de autores adictos a ideia de que há certos saberes inalcançáveis pela razão, sozinha, e que somente com o auxílio das emoções e das sensações poderíamos experimentá-los.

 

Foi a partir dessa visão que decidi escrever O Rei da Montanha. Em vez de apresentar textos herméticos e conceituais – aliás, não desisti deles, porque sou professor e investigador científico e publico com frequência em revistas acadêmicas -, mas decidi também levar a um público maior reflexões que normalmente ocorrem nos círculos pouco acessíveis das universidades, ao contar a trajetória de personagens com o máximo de realismo que eu consegui, para que fossem capazes de fazer o leitor sentir o conhecimento, de vivenciá-lo, ao se imaginarem na pele deles.

 

Alimento a paixão pela Literatura desde sempre, mas apesar da escrita ser a minha principal atividade de trabalho, adiei por mais de uma década o meu plano de escrever ficção. Eu reservei um espaço considerável na minha estante de livros para guardar títulos sobre escrita criativa, teoria literária, dicionários sofisticados e até materiais sobre roteiros de cinema. 


Eu os comprava, mas raramente dedicava-me a lê-los com atenção e depois realizar o difícil movimento do desejo para a ação. Nas poucas vezes que me enchi de coragem, escrevia um único capítulo e não seguia em frente. Não conseguia. A cabeça estava cheia de ideias, mas não era capaz de colocá-las numa história que ao mesmo tempo fizesse sentido e cativasse as pessoas à leitura.

 

Essa situação mudou quando minha vida virou de pernas para o ar e então pensei que poderia ser uma boa saída se eu inventasse um universo paralelo, mudasse-me para ele, e ali ficasse durante algum tempo. Guarde essa dica, ela é bastante importante: a escrita promove a cura da alma, acredite! Eu baixei todos os livros daquela parte da estante, reli todos eles, fiz anotações, e rascunhei uma história; planejei os capítulos e programei uma rotina de dedicação diária para duração aproximada de um ano. 


A história mudou consideravelmente enquanto eu escrevia e novas ideias surgiram. Eu lembro que uma delas eu a julguei tão boa que decidi não usá-la e então guardá-la para um outro livro. Depois de três meses eu escrevia a palavra de número 103.202, qual seja, a palavra FIM. Fora um mês de planejamento e três meses de escrita.

 

Em vez de descansar daquele trabalho insano, aquela ideia que eu gostei tanto ficou martelando na minha cabeça, e logo depois estava eu novamente a planejar outra história. Foi um mês para estruturá-la. Iniciei a escrita com o compromisso de seguir com mais calma dessa vez e finalizar os trabalhos depois de mais de um ano. Três meses depois eu escrevia mais uma vez a palavra FIM. Dessa vez ela era a de um número qualquer depois de 120.000.

 

Da mesma forma como aconteceu em o Rei da Montanha, uma ideia que surgiu eu decidi não utilizá-la na nova história e a guardei para um novo livro. Só que ela ficou atormentando e, assim, depois que terminei o segundo livro, passei um mês planejando uma outra história e depois comecei a escrita, dessa vez, determinado a ir com calma. Três meses depois ela estava pronta, um pouco menor, com quase 90.000 palavras, mas com um resultado que me emocionou.

 

A técnica que me ajudou a transformar minhas ideias em um história chama-se Snowflake Writing Method. Foi importante para o Rei da Montanha, por meio do qual eu estreava no mundo da ficção. Os outros dois livros eu dispensei essa e outras técnicas tão estruturadas e consegui usufruir de uma maior liberdade criativa, mas isso foi em grande medida devido ao domínio da narrativa que conquistei ao aplicar o método no meu primeiro trabalho. Deixo essa dica bônus para os aspirantes a autores.

 

Depois dessa jornada eu voltei para o nosso mundo com o espírito renovado, com força e vontade para reconstruir. Assim aconteceu. Atualmente vivo em Portugal e essa nova fase da minha vida só fez aumentar minha paixão pela Língua Portuguesa, pela Literatura e pela Filosofia. Por enquanto, você tem em mãos o Rei da Montanha


As outras duas histórias estão ainda aguardando a vez delas para pintar as páginas e ganhar vida na sua imaginação, querido leitor.  Estou em fase de planejamento de uma nova história, entretanto dessa vez - eu prometo a mim mesmo -, a experiência será como uma viajem dos sonhos, sem pressa, sem ansiedade, com toda atenção aos detalhes, de modo a dar-me ao direito de suspirar, sorrir, curtir…

 


Cristiano de Jesus é brasileiro e vive em Portugal. É ciclista de estrada e professor universitário. Além de ter produção científica e acadêmica, é romancista e escreve histórias nas quais une literatura e Filosofia, uma das suas áreas de formação e uma antiga paixão.

 

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