Entrevista: Juliana Bayeux

agosto 11, 2020

    


        Juliana Bayeux quando começou a estudar Direito, sabia que o ambiente era difícil, mas não o quanto. Em sua trajetória, acabou descobrindo que o mercado jurídico estava doente e se mostrou disposta a enfrentá-lo para conquistar os seus sonhos. Entre vários encerramentos e (re)começos, nesta nova etapa publica seu primeiro livro o Manual do Estagiário.

Descrito de uma forma leve e divertida, a obra conta um pouco da história da autora Juliana Bayeux nos bastidores dos escritórios de advocacia. Usando de sua liberdade criativa para não revelar nenhum personagem real a narrativa traz importantes reflexões para o mundo jurídico e para a vida.

A jornada do Manual do estagiário é narrada por Lorena Bustamante, que decide estudar Direito após ir à formatura de seu pai. A personagem revela como a esfera profissional do Direito por muitas vezes é elitista, sexista, machista, homofóbica, competitiva, estressante, e que pode desencadear doenças emocionais a partir do assédio moral e sexual.



O livro de forma sensível narra os fatos que sugam a autoestima do profissional, mas não sem demonstrar como é necessário se valorizar, enfrentar as situações e ser resiliente, principalmente parar criar coragem para desafiar o julgamento alheio, tanto na esfera pessoal quanto profissional. Para falar um pouco sobre  os desafios que enfrentou no processo de criação de sua obra, convidamos  Juliana para uma pequena entrevista. Confira: 


1. Você é formada em direito pela Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e criadora do perfil @soudireito com mais de 300 mil seguidores no Instagram. Entre vários encerramentos e (re)começos, nesta nova etapa publica seu primeiro livro. Conta para gente um pouco sobre sua trajetória, como chegou até aqui? 

Desde pequena tenho paixão pelo Direito, e acabei abraçando a profissão como missão de alma. Bem... ao menos é a isso que me prendo quando olho para trás e vejo quantos desafios foram impostos para confirmar se eu permaneceria firme nessa posição.  


2. De onde surgiu o incentivo para começar a escrever o Manual do Estagiário

Comecei a estagiar antes mesmo de se iniciarem as aulas na Faculdade e desde cedo enfrentei situações muito delicadas dentro do mercado. A ideia do Manual em si brotou ainda na fase de estudante, quando tive que deixar um escritório que amava, devido a um assedio sexual muito pesado. Eu não tinha maturidade para entender e muito menos voz para conseguir verbalizar. Aquele turbilhão de sentimentos me mastigou por dentro por anos, mas infelizmente este não foi o único episódio de assedio que tive que "aceitar". 

São 16 anos desde que iniciei os estudos e o mesmo período de tratamento abusivo – considerado normal – no mercado jurídico. Veio a pandemia e usei o período de isolamento como incentivo para colocar para fora todo aquele sofrimento, de forma a ressignificar meus sentimentos em relação a área. Hoje eu posso  dizer que realmente amo o Direito. 


3. Em sua obra, você se baseia em fatos reais para trazer os bastidores da bolha High-Society Jurídica Paulista. Como foi adicionar traços ficcionais a sua história pessoal? 

Conversando com amigos e acompanhando os comentários dos seguidores do @soudireito, percebi que eu não estava sozinha. Todos esses relatos acabaram me dando forças para seguir em frente e me senti na missão de dar voz a uma classe oprimida – a dos estagiários – que, uma vez calados, poderiam vir a se tornar os assediadores do futuro. Afinal, estavam sendo moldados dentro dessa "cultura de sucesso". Portanto, de ficção em si, só os nomes mesmo. Abri meu coração... já posso dizer que a minha vida é um livro aberto (risos). 


4. A história traz personagens reais com novos nomes e características. Existe alguém que é retratado na obra que você gostaria que não a lesse? 

Todas as pessoas retratadas na obra estão descritas exatamente da forma como se fizeram presentes na minha jornada, aquele foi o papel delas na minha vida. Sendo assim, acho importante que leiam o Manual, para perceberem o quanto foram maravilhosas ou... terríveis.  


5. Você traz de forma leve e divertida, temas complexos e duros com machismo, homofobia, racismo, assédio moral e sexual. Como foi equilibrar a narrativa para trazer temas tão sensíveis e necessários? 

Escrevi o Manual do Estagiário da forma como sempre contei as minhas histórias, procurando encontrar o lado bom de toda situação. Busquei equilibrar passagens cômicas com aquelas mais delicadas, tais como assédio moral e sexual, para que a leitura não se tornasse cansativa e o leitor pudesse dar um respiro em meio àquele monte de informação pesada, mas necessária para conscientização da classe.  


6. Qual foi o personagem mais complicado de desenvolver na trama? E qual você se apegou mais? 

Certamente o personagem mais delicado de se desenvolver foi a Neide Cristina, pois eu a amava como uma mãe e a tinha como uma musa inspiradora na profissão. Demorei anos para enxergar que estava sendo vítima de assédio e, até conseguir aceitar isso, me culpava por não ser "a advogada ideal", chegando até mesmo a duvidar da minha capacidade como profissional de Direito.  

Já a personagem que mais me apeguei certamente foi a Lorena – meu alter ego - que tinha tudo para se tornar uma assediadora por ter sido massacrada por chefes assim, mas conseguiu transmutar todos os acontecimentos e sua jornada de libertação foi linda, apesar de dolorosa. 


7. Qual impacto você espera que o livro traga para a geração futura de advogados? O que pode ser feito diferente? 

Nossa profissão em si já é muito difícil, por isso é necessário fazer diferente, é necessário humanizar o caminho. Podemos seguir todos juntos e facilitar a jornada tanto para o profissional do Direito, quanto para os clientes que estarão lidando com pessoas mais equilibradas emocionalmente, passíveis de compaixão. 


8. Qual você acha que é a importância desse livro para o universo jurídico? 

Chega de assédio. 


9. Defina sua obra em uma palavra. 

Perseverança. 


10. Por fim, quais os projetos que você tem para o futuro? Existe alguma outra história que você gostaria de contar? 

O futuro a Deus pertence... 


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