Entrevista: Léo Farah

dezembro 15, 2021



Em seu terceiro livro, Léo Farah traz o olhar e os sentimentos de corajosos profissionais que se prepararam para agir entre a razão e as muitas emoções que envolvem a todos durante um grande desastre.

Sobre bombeiros e heróis vai além de lembrar a operação de busca, quando o autor comandou equipes de resgates após mais um grande desastre. Você irá conhecer um relato emocionante de uma história real que também impactou o Brasil e o mundo: o rompimento da barragem de rejeitos de minério em Brumadinho, no ano de 2019.

Farah compartilha acontecimentos, curiosidades e muitas lições que adquiriu durante essa missão. Ao longo de sua carreira como bombeiro militar, um profissional que arrisca a própria vida para ajudar outras pessoas que estão em risco.

Então, para entendermos um pouco melhor sobre os desafios vivenciados por Léo Farah em sua jornada como capitão do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, um dos principais personagens na maior operação de busca e salvamento do mundo, o convidamos para uma entrevista exclusiva.

Confira a seguir:

1. Léo, você é capitão do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) com experiência internacional em busca e salvamento, gestão de desastres e gestão de riscos. Como você chegou até essa profissão? Quando criança sonhava em ser bombeiro militar?

Eu sonhava em ser médico, pois tinha a vontade de ajudar outras pessoas. Como demoraria no mínimo oito anos para me formar em medicina e exercer essa profissão, acabei fazendo um concurso para os bombeiros, que também tem esse propósito de salvar pessoas. Então acabei me apaixonando por essa profissão, e me especializando cada vez mais nessa área.

2. Muitos dos nossos leitores não sabem o que faz um bombeiro militar. Pode contar um pouco para gente?

Bombeiro militar é um funcionário público de carreira militar. Considerando as patentes: pode ser praça, soldado, cabo, sargento ou um oficial, como um tenente, capitão, major e até coronel.

É um profissional especializado em realizar salvamento e socorro em incêndios, acesso de locais de difícil, atendimento pré-hospitalar. Costumo dizer que um bombeiro é uma das pessoas mais importante no dia mais difícil da vida de alguém.


Foto: Douglas Magno

3. Além disso, você também é consultor, instrutor de cursos e treinamentos e palestrante. Que tipo de experiências pessoais você leva para esses eventos?

São dezessete anos como bombeiro, e além de muitos cursos e especializações que busquei no Brasil e no exterior, já vivi muitas experiências extremas como membro de uma equipe ou comandante de operações especiais. 

Já vi pessoas nascendo dentro das viaturas, e outras que infelizmente perderam a vida na minha frente.

Querendo ou não esses momentos são impactantes e transformadores para qualquer ser humano. Aprendi que o que mais importa no espaço entre a nossa vida e a nossa morte é o número de vidas que impactamos.

4. Além do seu novo lançamento, o livro Sobre bombeiros e heróis, você já tem outros dois publicados. Como começou a sua carreira como escritor?


Comecei de forma inusitada, não planejada. Após uma ação de salvamento de mais de 700 pessoas após o rompimento da barragem em Mariana (MG), um comandante pediu que eu fizesse um relatório detalhado que, segundo ele, era digno de “ato de bravura”.

Comecei a escrever de maneira detalhada, mas vi que não caberia em dez, vinte ou trinta páginas. Quando enviei o relatório e as pessoas liam, me disseram que eu precisava escrever um livro. Então comecei a entender que essas histórias poderiam ajudar outras pessoas, mas agora por meio de livros.

5. Falando em Sobre bombeiros e heróis, conta um pouco para gente sobre como foi o processo de escrita desse livro.

Depois dos dois primeiros livros eu comecei a receber muitas mensagens de leitores curiosos a respeito do treinamento dessa equipe de operações especiais.

Como nosso último treinamento ocorreu justamente poucos dias antes do trágico rompimento da barragem em Brumadinho (MG), e que se tornou a maior operação de busca e salvamento do mundo, as pessoas também queriam entender como os bombeiros buscam motivação para tanto esforço. E aqui vale uma homenagem a todas as pessoas que também se envolveram com essa missão.

6. Seu novo livro nos traz uma perspectiva completamente inédita sobre a tragédia de Brumadinho. Além de lembrar sobre a operação de busca, você também compartilha acontecimentos, curiosidades e muitas lições que adquiriu como bombeiro militar durante essa missão. Como é relembrar e compartilhar tudo que vocês viveram naqueles dias?

Essa é mais uma história para enaltecer o trabalho dos bombeiros, mas também para agradecer aos verdadeiros heróis, que são as pessoas sem nenhum treinamento especializado, que nos ajudaram a não desistir dessa operação e de muitas outras.

Procuro lembrar desse momento com muito respeito às vítimas, familiares, amigos e todos que foram impactados, mas também com gratidão por ter conhecido esses heróis de verdade.


Foto: Helbert Antônio de Alcântara

7. Quais foram as suas impressões sensitivas de tudo que aconteceu?

Era uma tristeza muito grande. Após vivenciar a operação de Mariana, ver aquilo tudo novamente me fez relembrar da tristeza que muitas outras famílias teriam que enfrentar.

Acredito que todos os homens e mulheres que estavam, e continuam envolvidos nas buscas até hoje, o sentimento seja o de minimizar ao máximo as perdas e as dores das pessoas atingidas.

8. Durante a cobertura midiática do desastre, o trabalho dos bombeiros foi bastante noticiado. Como é para vocês lidar com a mídia enquanto tentam realizar o trabalho de salvamento? Existia uma pressão muito grande?

Eu particularmente fiquei focado nas buscas e não fazia ideia da proporção do que estava sendo noticiado. A estruturação de nossa corporação funciona muito bem, e permite que cada especialista possa se dedicar as suas tarefas.

Só fui descobrir a dimensão na imprensa, dez dias depois, quando esperava uma carona pra ir para casa por restrições impostas pelas equipes médicas. Mas eu já sabia que estávamos fazendo nosso melhor.

9. No livro você conta que estava de férias, chegou de viagem com o pé quebrado e já foi direto comandar a operação. Como foi para você assumir o comando da maior tragédia ambiental já registrado na nossa história?

Os primeiros dias eu estava dedicado nas ações de busca, pois esse é o período que temos mais chance de resgatar pessoas com vida, mesmo num desastre com um grande volume de lama. 

Eu não tinha noção do tamanho que a operação ficaria e só percebi quando o Comandante Geral me informou que estavam chegando equipes até de Israel, e que eu deveria orientá-los.

10. Você também relata na obra o treinamento dos bombeiros militares. Vocês são preparados para lidar com situações de crise física e mentalmente? Pode contar um pouco sobre para gente?

Nosso treinamento é construído para que prepare profissionais mentalmente fortes. A questão física é muito importante, mas vemos que o fundamental para esse tipo de operação é estar mentalmente preparado para situações extremas. 

Então os alunos enfrentam muitas dificuldades exatamente para estarem preparados para o extremo de uma situação real, que é ainda mais dura.


Foto: Douglas Magno

11. Em Brumadinho, vocês tinham algum protocolo estabelecido para o resgate? Existiam pessoas o suficiente na equipe preparadas para participar da operação?

Desenvolvemos planos diariamente de acordo com os objetivos a cada momento, pois uma das características de uma ação de resposta a desastres é ter que se adaptar ao extraordinário.

Em Brumadinho o comando da nossa corporação rapidamente deslocou tropas de todo estado de Minas Gerais, e ainda contamos com apoio de corporações de outros estados brasileiros. 

Também vale lembrar que eram apenas poucos dias de um novo governo no estado e tivemos recursos suficientes para agir dentro das características daquele desastre.

Além disso, tivemos o apoio de diversos voluntários, que fizeram a diferença nessa operação.

12. Mesmo após dois anos da tragédia os bombeiros seguem a procura de todas as joias - como vocês denominaram as vítimas. Como ocorre essa operação?

Atualmente a operação utiliza muitas máquinas e tem um efetivo menor, mas com uma alta efetividade. 

Apesar da complexidade e dimensão dessa tragédia, encontramos quase todas as joias. Mas a missão é não desistir até encontrarmos todas. Uma pessoa desaparecida é 100% para a família dela.



Foto: Douglas Magno/AFP

13. Por fim, após o lançamento de Sobre bombeiros e heróis, quais são os seus planos para o futuro? Pensa em publicar outros livros?

Existem muitas histórias para serem contadas, podendo inspirar ainda mais pessoas e sempre buscando valorizar os homens e mulheres que se dedicam a essa profissão.

Além de novos livros, também quero levar essas histórias para o audiovisual. Muitas delas também fazer parte de minhas palestras, cursos e treinamentos. Entendo que essas experiências reais ajudam pessoas a superarem desafios, cumprirem suas missões e também salvarem vidas.



E aí, curtiu a entrevista?! Caso você ainda não tenha garantido o seu exemplar, corre em nosso site. E não deixe de acompanhar o Léo Farah em suas redes sociais.


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