Você sabe quais os custos para fazer um livro?

fevereiro 25, 2022




Por Giulia Staar

Como leitor, tenho certeza de que pelo menos uma vez você já parou para se perguntar como que funciona precificação de livros. Por que os livros têm ficado cada vez mais caros? Por que, com o tempo, as obras não vão ficando mais baratas? É apenas papel, né não?

Acredito que, apesar de gerar tantas dúvidas nos consumidores, ainda é um tabu falar abertamente sobre como o mercado literário funciona em termos de custos. Para justamente quebrar a corrente, no post de hoje vou explicar um pouquinho mais desse assunto para você.

Ao entender sobre como chegamos ao preço de capa de um livro, você também poderá aprender um pouco mais sobre o processo produtivo desse item que carrega tanto amor dos seus leitores. Vem comigo!

Livros como bem de consumo

Para muita gente ainda é muito difícil enxergar o livro como um produto, e as editoras como empresas que precisam vender para lucrar e, assim por diante, continuar publicando seus livros.

Pode parecer uma surpresa, mas livros também são bens de consumo! Igual a determinados produtos que compramos em nosso dia a dia, como comida, roupas, sapatos e joias. Logo, o livro também aumenta de preço de acordo com a inflação e com os custos fixos e variáveis da sua produção.

É legal salientar que: sei que livros não são um produto como qualquer outro. Eles carregam histórias, conhecimento e, muitas vezes, representam até os sonhos dos seus criadores. É também um objeto de afeto, amor e identificação, e aqui posso falar até por mim, que carrego uma história superespecial com eles, pois digo sempre: livros salvam minha vida todos os dias.


Contudo, mesmo assim, para ele chegar bonitinho aqui na minha casa, ou na livraria, ele passa por um enorme processo produtivo que envolve diversos profissionais e uma cadeia extensa de comercialização, assim como qualquer outro produto.

A gente precisa ir aos pouquinhos mudando a mentalidade de alguns leitores, pois se o grande público não vê o livro como um produto de consumo, logo não param para enxergar e valorizar sua produção e concepção, que tem um custo e um preço. E aqui chegamos ao questionamento:

Como funciona a precificação de livros?

Antes de mais nada, acho legal explicar que cada livro é único. Ou seja, normalmente são feitos orçamentos individuais para custos e lucros previstos para cada projeto de forma individual.

Cada livro tem especificações especiais que vão influenciar em seu valor, que envolvem itens como: gênero, autor, público, tamanho, conteúdo, especificações de gráfica e impressão.

Estes orçamentos sempre serão organizados em uma mesma lógica de funcionamento, sendo ela:

Custos fixos: que não modificam de valor

Os custos fixos são aqueles que não dependem do número de exemplares que serão impressos, como o valor: da tradução da obra, ilustrações, edição textual, revisão textual, capa do livro, diagramação, ISBN, ficha catalográfica e direitos autorais.

Mesmo sendo nomeados de fixos, eles vão variar de acordo com o projeto de cada livro.

Custos variáveis: que vão depender da tiragem dos livros

Os custos variáveis de todos os projetos envolvem: impressão, marketing, embalagens, transporte, brindes etc.

Ou seja, o cálculo total para cada projeto de livro levará em conta estes custos, mais as margens de lucros determinadas para cada livro.

Algumas variáveis importantes

Além desses custos que envolvem a precificação do livro, existem também algumas coisas sobre o mercado que influenciam nesse valor final, e que são importantes de serem ressaltadas:

1. Livrarias físicas e on-line compram livros para revender com desconto

Normalmente, aquele livro que você vê nas livrarias físicas e on-line foi comprado com mais ou menos 45% a 58% de desconto na mão das editoras.

Normalmente, estes 50% médios restantes recebidos pela editora por cada exemplar vendido são divididos os entre todos aqueles custos apresentados acima: direitos autorais, custos de produção, editoração, impressão, distribuição, armazenamento e custos administrativos. Muita coisa, né?

Então, pensa só: se um livro custa R$50, uma livraria o compra por R$ 25. Sobra também 25 reais para editora distribuir entre todos esses itens...

2. Muitas livrarias costumam pegar livros de forma consignada

Diferente de outros segmentos da economia, a negociação comercial entre livrarias e editoras muitas vezes é feita por meio da consignação.

Em resumo, a consignação é quando o livro é colocado para ser comercializado em um ponto de venda, sem que o comerciante tenha que comprar o produto. Eles basicamente abrem espaço em suas prateleiras para que as obras fiquem à venda. Assim, o dono do estabelecimento só paga as editoras se vender o produto. Caso não venda, ele pode devolver o livro.

Contudo, por mais que a consignação ainda seja muito praticada, muitos defendem que este modelo já está ultrapassado e algumas livrarias tem trabalhado de forma diferente com pagamento antecipado.


3. Imprimir livros no Brasil é muito caro!

Você sabia que os custos de gráfica podem chegar até mais da metade do preço do livro dependendo das suas especificações? É muito, né?

Isso acontece, pois dependendo do papel da impressão dos livros ele é cotado em dólar, geralmente na China – que é, até hoje, uma das maiores exportadoras de papel do mundo.

Tem até editoras grandes fora do Brasil que mandam imprimir os seus livros direto na China, nem passam por gráficas locais, acredita?

Obs.: Existem sim gráficas que compram o papel em real, tá? Mas, mesmo assim, elas são afetadas de alguma forma pela variação da cotação de dólar em seus insumos.

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Bom, agora que você aprendeu um pouco mais sobre como funciona a precificação dos livros e os custos envolvidos, fica mais fácil entender que ele é mais do que um objeto de afeto, mas também um bem de consumo. Por isso, ele tem um valor (além do simbólico) e o seu preço aumenta de tempos em tempos!

É muito importante que a gente valorize esse bem que amamos tanto e todas as pessoas envolvidas nessa cadeira maravilhosa que é o mercado editorial. E, o primeiro passo para isso é se informar, é claro!

O meu texto te ajudou? Você conseguiu entender melhor sobre todas essas variáveis que envolvem o custo de um livro? Se fiz uma pequena diferença, já fico feliz!

Não ficou cheio desse papo sobre mercado editorial e quer aprender mais sobre o assunto? Segue uma lista de artigos muito legais para você ler:






Giulia Staar







Giulia é jornalista, comunicadora e, horário comercial, trabalha como gestora de comunicação e marketing no Grupo Editorial Letramento. Nas horas vagas, também não deixa os livros de lado por nada, escreve poesia e tem uma newsletter onde compartilha seus pensamentos mais inesperados e histórias mais loucas.


 

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